Poliedra – Parte I (3)
Não. Conscientemente, não.
Polly nunca poderia desejar a quem quer que fosse uma relação como a que tinha com a Mãe.
Não era por mal, mas não sabia lidar com toda a admiração que sentia por ela: aqueles olhos, os cabelos negros brilhantes… A figura – invejável, sim! – de diva, de femme fatale, na forma como segurava a boquilha entre dedos e a levava àqueles lábios carnudos e sempre de um vermelho sensual.
O pior de tudo era a desilusão que a inteligência da Mãe lhe provocava...
Como?, como é que uma mulher como ela se tinha ido esconder do mundo ali? Justamente ali, no meio do nada?
Como é que uma mulher que podia ter o mundo na palma da mão e soprá-lo para onde bem entendesse, foi capaz de abdicar do exercício de todo o seu poder de sedução e esconder-se ali, naquela terra, no meio daquela gente?
«Poliedra, sabe quem eu sou, na verdade?», questionava a Mãe sempre que a apanhava, absorta, a seguir-lhe todos os gestos com o olhar.
«Mãe?», dizia para ganhar tempo.
Tempo suficiente para recuperar do efeito inebriante que era olhar aquela mulher… a sua Mãe. Se ao menos tivesse a certeza de que iria ter metade daquele glamour quando crescesse….
«Poliedra, ouviu o que lhe perguntei?», insistia.
«Desculpe, Mãe, estava a admirar a cor do seu vestido…». E notava uma súbita melancolia inundar o olhar da Mãe.
Pestana a pestana, aqueles olhos, lindos, castanhos, dourados, mergulhavam em memórias inacessíveis. Mergulhavam tão fundo que Polly pressentia a Mãe a afogar-se…
«Mãe, não percebo onde quer chegar com essa pergunta…»
«Sabe quem sou para além do que vê? Sabe que venho destas pessoas que tanto abomina?»
Então era isso.
Quase que o esquecia.
Ao olhar-se para ela, ninguém diria.
A Mãe era filha da Serra.
Isso deixava-a muito confiante. Fazia-a acreditar que, também ela, poderia vir a ter aquela aura, aquela presença que a todos influencia… mas que, no seu caso, só cativava o seu próprio Pai.
Polly precisava de ter a certeza que, no futuro, seria 100% filha de sua Mãe.
Contudo, o papel de Polly nesse destino, foi apenas o de uma ponte entre gerações…
Polly nunca poderia desejar a quem quer que fosse uma relação como a que tinha com a Mãe.
Não era por mal, mas não sabia lidar com toda a admiração que sentia por ela: aqueles olhos, os cabelos negros brilhantes… A figura – invejável, sim! – de diva, de femme fatale, na forma como segurava a boquilha entre dedos e a levava àqueles lábios carnudos e sempre de um vermelho sensual.
O pior de tudo era a desilusão que a inteligência da Mãe lhe provocava...
Como?, como é que uma mulher como ela se tinha ido esconder do mundo ali? Justamente ali, no meio do nada?
Como é que uma mulher que podia ter o mundo na palma da mão e soprá-lo para onde bem entendesse, foi capaz de abdicar do exercício de todo o seu poder de sedução e esconder-se ali, naquela terra, no meio daquela gente?
«Poliedra, sabe quem eu sou, na verdade?», questionava a Mãe sempre que a apanhava, absorta, a seguir-lhe todos os gestos com o olhar.
«Mãe?», dizia para ganhar tempo.
Tempo suficiente para recuperar do efeito inebriante que era olhar aquela mulher… a sua Mãe. Se ao menos tivesse a certeza de que iria ter metade daquele glamour quando crescesse….
«Poliedra, ouviu o que lhe perguntei?», insistia.
«Desculpe, Mãe, estava a admirar a cor do seu vestido…». E notava uma súbita melancolia inundar o olhar da Mãe.
Pestana a pestana, aqueles olhos, lindos, castanhos, dourados, mergulhavam em memórias inacessíveis. Mergulhavam tão fundo que Polly pressentia a Mãe a afogar-se…
«Mãe, não percebo onde quer chegar com essa pergunta…»
«Sabe quem sou para além do que vê? Sabe que venho destas pessoas que tanto abomina?»
Então era isso.
Quase que o esquecia.
Ao olhar-se para ela, ninguém diria.
A Mãe era filha da Serra.
Isso deixava-a muito confiante. Fazia-a acreditar que, também ela, poderia vir a ter aquela aura, aquela presença que a todos influencia… mas que, no seu caso, só cativava o seu próprio Pai.
Polly precisava de ter a certeza que, no futuro, seria 100% filha de sua Mãe.
Contudo, o papel de Polly nesse destino, foi apenas o de uma ponte entre gerações…
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