Poliedra – Parte I (2)
«E a menina Poliedra, terá, por um mero acaso, inveja?», questionava-a a Mãe, em tom insinuante.
«Inveja, Mãe?, de quê: de ter tido a mesma educação esmerada que Hipátia – treino físico diário, arte, ciência, literatura, filosofia e sabe-se lá que mais - mas, ao contrário da primeira grande mulher matemática de que reza a história, o seu único feito considerável e original foi dar à sua filha a versão feminina do nome de um sólido geométrico?!?»
«Poliedra, Poliedra…», repetia a Mãe, de sorriso irónico nos lábios.
E, aos ouvidos de Polly, aquela palavra, irritantemente repetida naquele tom, apoderava-se dela… E fazia-a vibrar até ao canto mais recôndito das suas entranhas.
«A única biblioteca onde a Mãe se senta, em nada é comparável à de Alexandria», replicava depois de retomar o fôlego, «por isso, não queira comparar o "trono" de Hipátia com o seu. De resto, lamento tê-la desapontado pelo simples facto de ter vindo ao mundo no lugar do seu tão desejado menino…»
E as provocações repetiam-se, em catadupa, numa espiral de violência verbal onde o início, meio e fim eram já velhos conhecidos de ambas.
Era este o ponto alto da relação de Polly com a sua Mãe; aquele em que reconhecia que ela era um ser poderoso de saber, gentileza, palavra, talento e beleza, como alguém um dia descreveu a filha de Teão de Alexandria.
De resto, o mau gosto demonstrado no nome que tinha escolhido para lhe dar, dominava todos os outros sentimentos de Polly pela Mãe.
Estaria Polly a tentar prolongar esta relação de amor-ódio entre mãe e filha quando, anos mais tarde...
(continua)
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