segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Pi - Parte I (3)

Tal como a organização de espionagem da Alemanha de Leste com o seu nome, – do filme “A Cortina Rasgada” de Alfred Hitchcock (1966) – Pi fazia tudo para encobrir o rasto de Piedade da Consolação.

Prosseguindo no melhor estilo / aura de mistério e perigo que sempre envolvem este tipo de organizações, Pi era perita em sobreviver a interrogatórios de toda a espécie. Ninguém conseguia obter dela uma resposta directa e precisa sempre que as questões diziam respeito à sua origem.

Mesmo que a submetessem às mais sofisticadas técnicas e métodos de tortura, seguramente nunca revelaria a sua filiação biológica, porque, afectivamente falando, a sua filiação era outra.

Ela sabia que era filha ilegítima.
E sabia de quem.
Mas tanto abominava quem lhe deu o nome que tanto gostaria de apagar de todos os registos possíveis e imaginários, como a mulher que julgava que poderia fazer-se passar por sua verdadeira mãe.

Aqueles que apresentava como sendo a sua família, na verdade, não lhe tinham qualquer laço de consanguinidade. Mas eram eles o verdadeiro objecto de amor e carinho de Pi. Os únicos seres do mundo a quem respeitava.
Todos os outros – “o útero que me pariu” e “a serranada que me criou”, como “carinhosamente” lhes chamava quando falava de si para si – tinham deixado de existir.

O ar aciganado da mulher que a viu crescer era tão diferente da visão majestosa em que Piedade da Consolação se transformou… Uma visão que Pi queria acreditar ser a sua inegável e exclusiva imagem de marca… Sem saber que caminhava, a passos largos, para uma fotocópia daquela a quem apelidou de “útero”.

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2 Comentários:

Blogger Paula disse...

Eh lá!
Isto está a ficar cada vez mais interessante.
O que será que vai acontecer à Pi?
Bjs!

21 de janeiro de 2008 às 16:04  
Blogger Fractal SMOG disse...

Acho que vou ter que arranjar companhia à Pi...

Pode ser que isso também chame mais leitores...

Ou que leve os que tem - sem seres tu, amiga - a comentar, a ver se deixo de me sentir tão só nesta aventura....

21 de janeiro de 2008 às 20:51  

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