Pi - Parte I
π é a mais antiga constante matemática que se conhece. É um número com infinitas casas decimais, não periódico, irracional e transcendente.
E ela era mesmo assim. Ninguém sabia o seu nome de baptismo. Onde quer que fosse – no trabalho, em família, no seu círculo de amigos – todos a tratavam por Pi.
Piedade da Consolação era uma incógnita que, apesar de parecer um scan da cara da Pi, só existia numa porcaria a que ousaram chamar Bilhete de Identidade. Como se o que constitui uma identidade se resumisse a um cartão encadernado a plástico, com uma foto tipo-passe tirada à pressa numa qualquer cabina do Metro de um lado e um borrão de tinta do outro.
Com uma desenvoltura fora de comum, não era de estranhar a classe com que utilizava termos de calão, deixando muitos dos que com ela privavam a interrogar-se acerca da verdadeira origem dos seus prosaicos dotes de conversação.
E, a comprovar isso mesmo, tratava de os aplicar na classificação de si mesma.
Se acordava bem disposta, não era raro ouvi-la dizer que tinha vestido a sua pele de Cabra Montês. “Montês? Não quererás dizer montesa?” Claro que não: ela era uma rural, sim, mas uma rural sofisticada, interessante… E uma verdadeira cabra se tratavam de a relembrar disso mesmo. Daí que, sempre que se cruzava com um dos seus amigos de infância, apenas mencionava que se tinha cruzado com um montanheiro.
Esta forma insultuosa de tratar todos os que pertenciam ao seu passado, parecia ser apenas mais uma maneira encontrada por Pi para exorcizar de si a Piedade da Consolação.
(continua)
E ela era mesmo assim. Ninguém sabia o seu nome de baptismo. Onde quer que fosse – no trabalho, em família, no seu círculo de amigos – todos a tratavam por Pi.
Piedade da Consolação era uma incógnita que, apesar de parecer um scan da cara da Pi, só existia numa porcaria a que ousaram chamar Bilhete de Identidade. Como se o que constitui uma identidade se resumisse a um cartão encadernado a plástico, com uma foto tipo-passe tirada à pressa numa qualquer cabina do Metro de um lado e um borrão de tinta do outro.
Com uma desenvoltura fora de comum, não era de estranhar a classe com que utilizava termos de calão, deixando muitos dos que com ela privavam a interrogar-se acerca da verdadeira origem dos seus prosaicos dotes de conversação.
E, a comprovar isso mesmo, tratava de os aplicar na classificação de si mesma.
Se acordava bem disposta, não era raro ouvi-la dizer que tinha vestido a sua pele de Cabra Montês. “Montês? Não quererás dizer montesa?” Claro que não: ela era uma rural, sim, mas uma rural sofisticada, interessante… E uma verdadeira cabra se tratavam de a relembrar disso mesmo. Daí que, sempre que se cruzava com um dos seus amigos de infância, apenas mencionava que se tinha cruzado com um montanheiro.
Esta forma insultuosa de tratar todos os que pertenciam ao seu passado, parecia ser apenas mais uma maneira encontrada por Pi para exorcizar de si a Piedade da Consolação.
(continua)
Etiquetas: Pi
4 Comentários:
Estamos à espera, de pipoquinhas e refrigerante na mão!
Bjs!
A luz...que te deixo...é da cor da minha vida...
:)
Estou ansiosa pela segunda parte da história dessa cabra... ai perdão, Piedade da Consolação!
A PI deixou-me curiosa... o que será que o seu passado esconde... Ah... e já agora: GOSTEI DO QUE LI! :-)
Beijinhos!
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